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Foto do escritorC.A. XI de Agosto

Diretor de um dos colégios mais caros de SP afirma que as cotas estão destruindo as universidades

A luta estudantil pela democratização do ingresso na Universidade de São Paulo teve como ponto central a conquistas das cotas sociais e raciais. Apesar dessas importantes vitórias, vindas de lutas travadas pelo movimento estudantil e pelo movimento negro, ainda é preciso derrubar a ideologia elitista que ainda permeia diversas cabeças dentro e fora da universidade.

Prova disso são as declarações de Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, uma das escolas mais caras e elitizadas do país, em entrevista à Revista Veja São Paulo. Nela, o responsável por uma das instituições que mais aprova estudantes no vestibular da USP despeja uma série de preconceitos contra as cotas raciais e sociais, demonstrando assim um nítido desconhecimento sobre essas ações afirmativas e seu impacto sobre a universidade.

Quando perguntado se concordava com retorno simultâneo entre as escolas públicas e privadas, argumentou que “grande parte da pesquisa brasileira é feita na USP e na Unicamp. Se você levar para lá pessoas não qualificadas, compromete toda a sociedade a longo prazo. O papel da universidade não é ser curso de recuperação de ensino médio. A sociedade já tomou 50% das vagas nas universidades públicas para alunos de escola pública. Está destruindo a universidade e disfarçando o problema”.

Em seguida, complementou: “Ter cota de 20% ou 30% é uma coisa, mas cota de 50% leva para a universidade pública alunos completamente despreparados”.

As afirmações, contudo, cientificamente não se sustentam e demonstram que o verdadeiro despreparado é o próprio Diretor do Colégio Bandeirantes: diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Nas universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ),o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo.

Mais que isso, as universidades brasileiras são permeadas por uma epistemologia eurocêntrica que só é possível de prosperar em um ambiente elitista e branco - como é a USP e o Bandeirantes. Estudantes negras e negros contribuem, nesse sentido, para o avanço e o desenvolvimento da ciência - e, frise-se, ciência não é só o que a branquitude produz.


Nós, negros e pobres, oriundos de escolas públicas, que possuímos resultados acadêmicos semelhantes aos dos nossos pares brancos e ricos, temos feito uma verdadeira revolução no modo fazer ciência em nossas universidades, colocando debates inéditos e ocupando espaços de poder dentro dessas instituições. Vir do Colégio Bandeirantes não confere selo de qualidade nenhum: só demonstra o privilégio de estudar em um colégio cuja mensalidade é maior que o salário de muitos de nossos pais.

O XI de Agosto, hoje ocupado por diversos estudantes que ingressaram na USP na primeira turma de cotistas étnico-raciais, repudia veementemente as falas de Mauro Aguiar. A qualidade universitária não pode e não será mais medida com a régua da elite branca deste país: as declarações do diretor são a prova de uma elite racista e ignorante, iletrada no que se refere às novas epistemologias e pesquisas que vem revolucionando esse espaço.

+ EE (Escola Estadual) - Mauro Aguiar

Link da entrevista original: https://bit.ly/2J2JLT8

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